quarta-feira, 26 de março de 2014

Ricardo Young aponta esquizofrenia na gestão Haddad


Líder do PPS critica a falta de convergência entre as políticas social e ambiental

Em pronunciamento feito na tarde desta quarta-feira (26/3) no plenário da Câmara, o vereador Ricardo Young (PPS) chamou a atenção do Governo para enxergar a moradia e a gestão dos parques da cidade como causas convergentes para a realização de políticas sustentáveis na cidade. Ele usou o exemplo da ocupação Nova Palestina, na Zona Sul, que está localizada numa área destinada a construção de um parque. Moradores da região compareceram à Câmara para pedir medidas do poder público sobre a questão.

O vereador ainda citou o primeiro ato em defesa dos parques ameaçados de São Paulo, que acontece na próxima segunda-feira, às 17h, na Praça do Patriarca. Mais de dez parques estão na lista dos manifestantes que pedem a preservação das áreas. 

“Os movimentos estão aqui reivindicando cumprimento de acordos feitos com o prefeito. São muitos compromissos que não estão sendo cumpridos. Um desafio está sendo colocado em xeque para a cidade. As políticas de moradia e de áreas verdes estão sendo tratadas de maneira dissociada uma da outra. Não há visão de gestão sustentável integradora, o que é esquizofrênico. Ainda estamos votando o Plano Diretor da cidade. Se não integrarmos esse pensamento a ele, não sei o que será dessa cidade nos próximos anos”, apontou.

Leia a íntegra do discurso

“Sr. Presidente, venho fazer uma reflexão, que entendo bastante oportuna, diante do que estamos vendo, neste momento, diante do prédio da Câmara Municipal de São Paulo. Estamos com o Movimento organizado dos Trabalhadores Sem-Teto – MTST, aqui, reivindicando o cumprimento de um acordo feito com o Sr. Prefeito.

Como foi dito pelo nobre Vereador Toninho Vespoli, que me precedeu, são vários os acordos que não estão sendo cumpridos pela Prefeitura Municipal de São Paulo. O voto que não é honrado custa caríssimo em termos de política e de equilíbrio mínimo do conjunto da sociedade, e é isso o que está acontecendo com o Sr. Prefeito. Não há possibilidade, ou não há vontade política, de se cumprir os compromissos. Os movimentos estão se multiplicando e, cada vez mais, veremos um Governo emparedado em sua impotência para resolver o mínimo, quanto mais o máximo.
Porém, o que me chama mais a atenção, Sr. Presidente, é que esse movimento, que vem liderando os demais, na Cidade, que é o Movimento de Moradia da Nova Palestina, está colocando em xeque um grande desafio.

Como todos sabem, a região da Nova Palestina está sob um decreto para a constituição de um parque. Estamos vendo, cada vez mais, na Cidade, os parques sendo invadidos para moradia. Então, nem temos uma política de moradia, nem temos uma de parques públicos. A Cidade vai minguando. Temos uma crise ambiental dramática. Temos um problema enorme de impermeabilização, uma ausência absoluta de áreas verdes e, agora, temos dois movimentos em confronto: o movimento por moradia – absolutamente justo, e o movimento pela preservação e ampliação da dimensão ambiental da Cidade são absolutamente indispensáveis para a sobrevivência.

E por que o Prefeito não resolve essa questão? Porque as questões ambientais e sociais são vistas de forma dissociada. Não há uma integração de políticas numa estratégia socioambiental. Portanto, não há visão de gestão sustentável. O que falta ao Prefeito e aos seus secretários é uma visão integradora da sociedade, dos movimentos sociais e das demandas ambientais. Tanto a sociedade é penalizada pela ausência de políticas ambientais, como o meio ambiente está sendo sacrificado em função da ausência de políticas habitacionais na Cidade.

Não é mais possível, Sr. Prefeito, não é mais possível, Líder do Governo nesta Casa, que continuemos ignorando essa esquizofrenia de quem não consegue integrar o óbvio. Uma sociedade não pode se desenvolver sem integrar as dimensões econômica e socioambiental. E é isso o que está acontecendo aqui, os interesses econômicos são tratados a parte dos interesses sociais, que estão apartados dos interesses ambientais.

O que esta gestão tem feito é colocar esses segmentos uns contra os outros. Hoje é o movimento de moradia que está na frente da Câmara. Na segunda-feira, na Praça do Patriarca, serão os movimentos pelos parques da Cidade. Já vimos os movimentos do Parque Augusta se organizando e não vejo, Sr. Presidente, um gestor, um Prefeito, os líderes políticos procurando integrar essas demandas justas numa única política para a Cidade.

A Cidade está sendo retalhada, fragmentada, desestruturada em cima de demagogia política, promessas que não são cumpridas, acordos que não são cumpridos e a ignorância de uma política pública mais avançada: o desenvolvimento sustentável para a Cidade.
Fico aflito porque vejo todas essas demandas como justas e necessárias para nossa Cidade, mas não estamos sendo capazes de integrar os legítimos interesses dos paulistanos numa estratégia de desenvolvimento para a Cidade.

Terminando, Sr. Presidente, reitero as palavras do Vereador Toninho Vespoli de que a discussão do Plano Diretor vai ser essencial para fazermos essa integração. Se não formos capazes de fazer o Plano Diretor, se perdermos essa oportunidade, não sei o que será da Cidade nas próximas décadas. Muito obrigado”.

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