terça-feira, 9 de dezembro de 2014

A morte de Herzog virou a página da ditadura, defende professor


Site da Câmara

Para o professor Mário Sérgio de Moraes, o caso da morte do jornalista Vladimir Herzog foi um ponto chave no período do regime militar (1964-1985) e consequentemente na história do Brasil. Para ele, foi a partir da morte do jornalista, em 1975, que houve a primeira grande manifestação popular contra a ditadura, quando a palavra ‘cidadania’ passou a fazer parte do vocabulário do brasileiro e, por fim, o momento em que a tortura realizada por militares veio ao conhecimento da população, por meio da imagem de Vladimir Herzog enforcado.

Conselheiro do Instituto Vladimir Herzog e autor de uma tese de doutorado sobre a morte do jornalista, Moraes também acredita que a Argentina pode ser considerada um modelo, pois revogou a Lei da Anistia fazendo com que a sociedade tivesse plenos conhecimentos do que aconteceu entre os anos de 1976 e 1983. “Não é o que aconteceu no Brasil. Aqui ela [a Lei] anistiou torturadores e perpetuou o que eu chamo de indústria do esquecimento. Não é colocando cal que se resolve o que aconteceu, mas através da transparência”, disse.

O professor foi um dos convidados da última reunião da Comissão da Verdade da Câmara Municipal em 2014, realizada nesta terça-feira (9/12) na Câmara Municipal. Além de seu depoimento, foi exibida uma entrevista gravada com o desembargador federal Márcio José de Moraes, autor da sentença que responsabilizou a União pela morte de Herzog.

Encontrado morto, supostamente enforcado, no prédio do 2ª Exército, na capital paulista, Herzog era na época diretor de jornalismo da TV Cultura, de São Paulo. Um dia depois da morte, o comando do Departamento de Operações de Informações e Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão de repressão do exército brasileiro durante a ditadura militar, divulgou nota informando que o jornalista havia se suicidado nas dependências da cela em que estava preso. Natural da Iugoslávia, Herzog chegou com seus pais ao Brasil em 1942, fugindo do nazismo. Morreu aos 38 anos e deixou uma esposa e dois filhos.

A versão oficial da morte foi contestada principalmente por movimentos de resistência ao regime, e começava ali uma grande busca pela verdade. Anos depois de sua morte, após muita investigação, em 2013 a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), reconheceu oficialmente que o ocorrido no DOI-CODI foi um assassinato. Em fevereiro de 2014, uma nova certidão de óbito foi emitida, indicando que a morte do jornalista foi decorrente de lesões e maus-tratos.

Ivo Herzog, filho de Vladimir, também esteve presente na reunião — que foi a última da comissão. Para ele, a Comissão da Verdade da Câmara Municipal escreveu um capítulo importante que faltava na história do país. Em relação à morte de seu pai, ele acredita que “falta ainda uma investigação oficial para levar à Justiça as pessoas que estiveram envolvidas”.

Presidente do colegiado, o vereador Gilberto Natalini (PV) fez um balanço dos três anos da Comissão municipal da Verdade. Segundo ele, durante o período de investigação não deu para ouvir todas as pessoas que a comissão desejava, mas ela conseguiu colher o depoimento de muita gente e foi possível aprofundar vários temas. “Temos muito material coletado da ditadura militar e muitas ações feitas. Ações importantes em termos de democracia, em termos de memória, de trazer a verdade à tona e de propor coisas concretas para a cidade de São Paulo”.

Em maio de 2015 será entregue o relatório final.

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