O Globo
A Comissão Municipal da Verdade de São Paulo impetrou, nesta terça-feira (24/6), mandado de segurança contra a Comissão Nacional da Verdade (CNV) para impedir que um relatório preliminar sobre a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek elaborado por Brasília seja transformado em relatório final. A comissão municipal concluiu, no fim do ano passado, que JK foi morto num atentado político em 22 de agosto de 1976. A CNV, por sua vez, apresentou relatório que concluiu que a morte aconteceu em decorrência de um acidente de trânsito na Via Dutra, confirmando a versão oficial.
O objetivo da ação judicial, formalizada na 15ª Vara Federal, em Brasília e cujo mandado foi distribuído para o juiz João Luiz de Sousa, é que a CNV leve em conta circunstâncias, evidências e testemunhas que prestaram depoimento à Comissão dos vereadores paulistanos sobre o caso.
"Queremos que as conclusões a que chegamos sejam consideradas e que os nossos trabalhos possam subsidiar a Comissão Nacional da Verdade", afirmou o presidente da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, vereador Gilberto Natalini (PV).
O mandado de segurança critica a CNV por repetir argumentos e perícias do inquérito policial da época da morte, em plena ditadura militar, que culpou o motorista de ônibus Josias Nunes de Oliveira pelo acidente que matou JK. A comissão paulistana alega que a CNV não ouviu oito testemunhas consideradas relevantes e que apontam evidências para o assassinato do ex-presidente.
Entre as testemunhas, segundo Natalini, estão o próprio Oliveira; o passageiro do ônibus conduzido por ele, Paulo Oliver, que disse não ter havido choque entre o ônibus e o automóvel que transportava JK; e também Serafim Jardim, ex-secretário particular de JK.
"Só ouviram o Antonio Carlos de Lima (perito que disse às duas comissões que o motorista do carro de JK, Geraldo Ribeiro, foi vítima de um tiro de arma de fogo disparado contra o crânio dele), e, mesmo assim, muito rapidamente. Há relatos de que mexeram no carro de JK antes da chegada da perícia, de suborno oferecido ao Oliveira, de que o carro onde estava o Juscelino atravessou a Via Dutra com o motorista com a cabeça caída entre o volante e o vidro do veículo, de chantagem à dona Sara Kubitschek por parte do médico Guilherme Romano, amigo do Golbery (do Couto e Silva) que subtraiu o diário do Juscelino, entre outros", garantiu o vereador Gilberto Natalini.
A Comissão Nacional da Verdade informou ao Globo que o relatório da Comissão da Verdade de São Paulo foi analisado pelos peritos da CNV, que concluíram que não há qualquer elemento que sugira a tese defendida pelos vereadores paulistanos. Disse ainda a CNV estar aberta a conversar tanto com a Comissão Vladimir Herzog, nome da comissão paulistana, quanto com a Comissão da OAB de Minas Gerais, que também questionou o relatório da CNV sobre o episódio JK.
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