terça-feira, 23 de setembro de 2014

Capitão do Exército, vítima da Ditadura, relata torturas durante regime militar


KÁTIA KAZEDANI/Site da Câmara
Foto - Luiz França/CMPS


Preso no Vale do Ribeira em 1970, o capitão do Exército Darcy Rodrigues contou nesta terça-feira (23/9) à Comissão da Verdade Vladimir Herzog que ele e outros 40 integrantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária) – organização contrária ao regime militar – ficaram sem comer durante dez dias, sendo torturados de manhã, à tarde e à noite durante os meses em que ficaram presos.

“Qualquer opositor que caísse nas mãos da repressão seria torturado com certeza”, afirmou Rodrigues. Por estarem em um local que não tinha condições de manter pessoas presas, relembrou o capitão, eles foram amarrados em estacas no chão. “Por dez dias ficamos com os braços e pernas abertas amarrados nesses locais, tomando sol, chuva e sereno. Nesse período, antes de sermos levados para o Doi-Codi (centro de repressão do Exército durante a ditadura) ficamos sem tomar água e sem comer”, detalhou.

Após serem levados para o Doi-Codi, as torturas continuaram diariamente. “Tomávamos choques, nos penduravam no pau de arara, nos batiam com chibatas e nos espancavam. Só podiam ser animais para fazerem isso, porque eles atacavam pessoas amarradas e indefesas”, declarou Rodrigues.

Entre os comandantes da VPR estava Carlos Lamarca, capitão do Exército Brasileiro que desertou em 1969, amigo pessoal de Rodrigues. “Além de ser opositor ao regime, eu era ex-militar, companheiro do Lamarca e militava pela VPR. Tudo isso era um agravante para que fosse ainda mais torturado”, explicou.

O grupo preso no Vale do Ribeira só foi solto após a VPR sequestrar o então embaixador alemão Ehrenfried von Holleben e pedir em troca a libertação dos 40 presos políticos.

O depoimento de Rodrigues é mais uma das evidências que comprovam, de acordo com o presidente da Comissão da Verdade, vereador Natalini (PV), os abusos cometidos durante o regime militar. “As forças militares eram muitos superiores aos grupos que eram contrários e eles cometiam atos abomináveis, que é prender, desarmar e torturar de forma bárbara as pessoas, com metodologia nazista, fascista”, afirmou. “Vamos continuar nosso trabalho e temos muitos assuntos para apresentar no nosso relatório, desse trabalho que fazemos com o objetivo de buscar a verdade, preservar a memória e fazer justiça”, disse.

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