quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

“Chiclete com Banana” no Diário Oficial


Fábia Renata - Vereador Penna
Fotos - Fernando Manzano/CMSP

Na noite de quarta-feira (1/12), o cartunista Glauco Vilas Boas, assassinado junto com seu filho Raoni em março deste ano, recebeu uma emocionante e alegre homenagem na Câmara Municipal de São Paulo. De iniciativa dos vereadores Penna (PV) e Claudio Fonseca (PPS), Glauco recebeu o Título de Cidadão Paulistano In Memoriam.

Sentados à mesa da homenagem, além dos vereadores proponentes, estavam os companheiros históricos e de histórias e também cartunistas Angeli e Laerte; o ator e diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa; o psicólogo que apresentou o Santo Daime para Glauco, Leonardo Cristo; o jornalista José Hamilton Ribeiro; a ex-vereadora Soninha Francine (PPS); o filho do homenageado, Ipojucã; sua mãe, Nimoendaju; e a viúva do cartunista, Beatriz Galvão Veniss.


Para o vereador Penna, o trabalho do cartunista era excepcional, tanto que mesmo depois de sua morte a Folha de S.Paulo continua publicando suas tirinhas diariamente. “Com esta homenagem estamos dizendo para São Paulo e para o Brasil que o Glauco foi muito importante tanto para nossa cidade como para nosso país. Ele colaborou muito para a redemocratização do Brasil, pela qual lutavam todos que sofreram os anos da ditadura”, disse Penna, que conheceu o cartunista nos anos 80 na Vila Madalena, bairro onde mora até hoje.


“Homenagear uma pessoa como o Glauco é celebrar a vida. Hoje ele é lembrado pela alegria que nos proporcionou, pelo riso. A história em quadrinhos não ficou mais pobre com a morte do Glauco, pois os novos desenhistas têm uma referência, seu trabalho continua inspirando o dos outros”, destacou Claudio Fonseca.


A ex-vereadora Soninha Francine (PPS) não conheceu o cartunista pessoalmente, mas acompanhava seu trabalho pelas tirinhas do jornal: “O Glauco era o máximo do paulistano! Esta homenagem é a mais inusitada, pois é Chiclete com Banana no Diário Oficial”, disse Soninha, referindo-se à publicação de humor que Angeli, Glauco e Laerte faziam nos anos 80.

Humor e Santo Daime



Entoando hinos daimistas, Zé Celso fez sua homenagem ao cartunista, de quem sempre se lembra com muita alegria. "Sei que a vida é trágica, mas felizmente não é um drama, pois drama a gente não supera. A vida é trágica, é engraçada e gostosa. O Glauco tinha esse espírito de sacanagem e orgia. Viva o amor e viva o humor", disse Zé Celso, ao se referir ao drama do assassinato do amigo.


O jornalista José Hamilton Ribeiro foi quem arranjou o primeiro emprego de Glauco em um jornal. Foi em Ribeirão Preto, interior paulista, no Diário da Manhã. “Chegou na redação mal vestido e me disse que queria fazer três quadrinhos no jornal. Disse para ele que HQ já tínhamos e que precisava de alguém para fazer a charge diária. Ele disse que era difícil, queria fazer três quadrinhos, mas só tinha espaço para um! Começou no dia seguinte e não parou mais”, lembrou Ribeiro.



O cartunista Angeli também conheceu o amigo na redação. Era editor de uma página de humor na Folha de S.Paulo, onde Glauco foi mostrar seu trabalho. “Ele já era um cidadão paulistano ao fazer toda a sua história aqui. Como cartunista, foi único, com um traço livre, retratando os conflitos das relações familiares. Ele tinha um humor saltitante, foi muito bom quando ele chegou, pois fazíamos um humor contra a ditadura e ele usava temas que deixávamos de lado”.


O espírito juvenil e anárquico expresso nos desenhos e os rompantes criativos foram os pontos lembrados por Laerte, o outro cartunista amigo que trabalhou com Glauco. “Ele não era uma pessoa, era uma força da natureza”, disse Laerte, que também lembrou das duas vezes que tomou o chá do Santo Daime, na igreja Céu de Maria, criada e mantida por Glauco em sua casa em Osasco.

O Santo Daime entrou na vida de Glauco por meio de Leonardo Cristo, que ajudou o amigo a criar o Céu de Maria. “Ele era o meu irmão de jornada espiritual. Ele me escolheu para ajudá-lo nesta busca. Lembro que nossa intenção era trazer o Daime para a cidade, essa doutrina que é da floresta”, contou Cristo, que também leu para os presentes a mensagem do padrinho Alfredo, presidente do Conselho Superior Doutrinário da igreja do Santo Daime.

Na entrada do salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo, onde o evento foi realizado, 12 personagens criados por Glauco estavam expostos em grandes ampliações, saudando os convidados, em exposição montada pelo jornalista e primo do cartunista, Orlando Cardoso de Oliveira: Geraldão, Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge, Geraldinho, Casal Neuras, Ozetês, Faquinha, Nojinsk, Cacique Jaraguá, Netão, estavam todos lá, para receber a merecida cidadania paulistana. Um grupo formado por integrantes do Céu de Maria entoaram cânticos religiosos.


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