O Estado de S. Paulo
Após 49 anos, a Câmara Municipal de São Paulo restituiu o mandato de 42 vereadores cassados por perseguição política entre os anos de 1937 e 1969. A sessão solene que marca a devolução dos diplomas aconteceu nesta segunda-feira (9/12) no Palácio Anchieta com a presença de cerca de 600 pessoas. Só dois dos 42 vereadores cassados foram localizados vivos e participam da homenagem: Moacir Longo, de 83 anos, ex-dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cassado em 1964, e Armando Pastrelli, de 95 anos, cujos direitos políticos foram obstruídos em 1937.
Deputados, autoridades, parlamentares de partidos rivais e parentes se emocionaram ao ver Pastrelli assumir a presidência da sessão e fazer um discurso emocionado e de improviso. Sóbrio e com fala de tom impecável, o vereador cassado pelo Estado Novo afirmou que se sentia justiçado. Ele lembrou o papel importante que as mulheres tiveram ao assumir as funções, no lar e no trabalho, após os maridos serem presos. “É um dia especial para todos nós, e eu tenho aqui que fazer uma homenagem especial às mulheres”, resumiu Pastrelli.
Cassado pela Ditadura, Longo também recebeu as homenagens e seu diploma de vereador. Ele é até hoje dirigente do PPS e segue ativo como articulador do partido. “A tendência é (o PPS) apoiar o Alckmin em São Paulo. No plano nacional já demos nosso apoio à chapa Eduardo Campos-Marina Silva”, comentou antes da sessão, ao ser cumprimentado pelo ex-governador Alberto Goldman (PSDB). “Foi ele quem me lançou na vida política como candidato a deputado, em 1970”, lembrou Goldman.
Um pouco antes do golpe militar, Longo tentou montar na Câmara um bloco de oposição (Bloco Nacionalista), na tentativa de isolar a base governista dos parlamentares ligados ao prefeito Prestes Maia e ao governador Ademar de Barros. Foi o que o tornou um alvo preferencial dos militares após o golpe de março.
“Não tinha como eu não ser retaliado, eu era contra aquele golpe”, lembrou. Bem antes, no dia 12 de dezembro de 1947, Longo foi preso pela primeira vez ao pichar em um muro a inscrição “Viva o camarada Stálin, campeão da paz.”
“Aqueles que acreditam na democracia sabem da importância desse ato. E se alguém não sabe nós temos de explicar a importância desse ato para todos. Temos de rebater com veemência as pessoas que dizem, quando a situação está ruim, que só uma força autoritária poderia resolver a situação”, afirmou Gilberto Natalini (PV), vereador que foi preso político no Doi-Codi e responsável por organizar o evento, em conjunto com a presidência da Casa.
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