Como está na moda falar em "preso político" quando na verdade estão se referindo simplesmente a políticos presos, o PT poderia aprender com a história do presidente de honra do PPS de São Paulo, jornalista Moacir Longo, vereador cassado pela ditadura na década de 60, preso político na década seguinte e que terá o mandato restituído simbolicamente pela Câmara Municipal em sessão na próxima segunda-feira, 9 de dezembro.
Leia abaixo reprodução da entrevista de Moacir Longo na Revista da Folha:
'Nunca procurei bancar a vítima de nada'
Único vereador cassado logo após o golpe de 1964 presidirá sessão de homenagem a parlamentares que perderam mandato
"Franzino, baixinho e com cara de moleque", o comunista Moacir Longo, então com 33 anos, fugiu da Câmara Municipal, que ficava na rua Líbero Badaró, num Chevrolet antigo. Era 2 de abril de 1964. Seu mandato de vereador foi cassado pela ditadura. Preso em 1972, perdeu os direitos políticos.
Seu processo "passou pelo crivo de um tal de Comando da Revolução". O relatório dele, que era do Partido Comunista Brasileiro, tinha 66 páginas.
Passados 49 anos, Moacir volta ao Legislativo. No dia 9, presidirá a sessão que restituirá simbolicamente o mandato de quem o perdeu, assim como ele, ou foi impedido de assumi-lo entre 1937 e 1969.
Ao todo, são 42 vereadores, procurados pela equipe dos vereadores Gilberto Natalini (PV) e Orlando Silva (PC do B). Dois estão vivos: Longo e Armando Pastrelli. Localizaram-se parentes de outros 28. Não há notícias do paradeiro dos demais.
Quando foi pela última vez à Câmara?
Na noite [de 30/3/1964], um colega meu, vereador da UDN, braço político dos golpistas, me chamou de lado: começou o negócio. Decidimos fazer vigília na Câmara. No dia 1º, assistimos da sacada do Palacete Prates [sede da Casa até 1969], que dava para o vale do Anhangabaú, tanques, caminhões com tropas. No dia 2, saí de lá. A Câmara tinha só dois carros. O presidente e o secretário articularam uma série de viagens. O carro saía lotado e voltava.
O que dizia o relatório contra você?
Que fiz curso na União Soviética...
E fez mesmo?
[Risos] Realmente, fui [de 1955 a 1957]. Não tinha nada dessas bobagens de KGB. Estudava filosofia, economia, história do movimento operário. O Marighella foi quem me convocou para ir lá.
E depois de fugir?
Fiquei dois dias com um médico no Sumaré, e depois com uma irmã, no Caxingui. Mas não era seguro. A minha casa foi invadida. Levaram documentos, meu pai e um irmão [acabaram liberados]. Decidimos [ele e três estudantes] ir para o Campo Belo. E eu militando na capital e no interior para reorganizar o PCB.
O senhor foi preso em 1972 e ficou 44 dias no DOI-Codi.
O negócio foi bravo. Muito. Tive de ficar lá até sarar a minha costela, quebrada. Moíam os presos. Lá era um terror.
Como a cassação afetou sua vida?
Não fiquei traumatizado. Nunca mais procurei a Câmara. Nunca procurei bancar a vítima de nada, tirar proveito disso.
O que achou da homenagem?
Fiquei tenso. Tem um significado de denúncia das arbitrariedades do regime.
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