sexta-feira, 2 de março de 2012

Livro póstumo de Antonio Resk será lançado em São Paulo


A Direção Municipal do PPS convida para o lançamento do livro “Ruptura: anomia na civilização do trabalho de Antonio Rezk”, publicação póstuma do companheiro Antonio Resk e que será lançada no próximo dia 3 de março, às 14h, no Memorial da Resistência – Largo General Osório, 66 – 5º andar, no bairro da Luz.

O Livro

Trata-se de uma publicação póstuma, de autoria de Antonio Rezk (1933-2005), que registra as reflexões desenvolvidas nos últimos quinze anos de sua vida frente ao impacto da queda do muro de Berlim e da dissolução da União Soviética.

Desde o início da década de 90, Rezk reuniu, em encontros e debates, intelectuais e companheiros de militância política para a troca de ideias sobre o novo cenário internacional.

Uma das decorrências desses encontros, inclusive, foi a criação do MHD – Movimento Humanismo e Democracia, em 1992, marcado pela publicação de um manifesto considerado, na época, como uma das primeiras leituras inovadoras do novo quadro político, econômico e social.

O resultado deste esforço vigoroso é o conteúdo do livro que, em decorrência da dedicação da família e de seus amigos, sai agora do prelo.

Rezk, fisgado pela análise da experiência psíquica de exclusão vivida pelos desempregados, engaja-se na investigação das relações entre as estruturas sócio-econômico-políticas do capitalismo contemporâneo — com as ideologias que o sustentam — e o mundo psíquico dos indivíduos sujeitados às vicissitudes e incertezas deste momento histórico.

Nesta exaustiva análise, faz um percurso vigoroso, desnudando a alienação implícita nas relações de trabalho existentes no modo de produção capitalista, desvendando os paradoxos que atravessam a vivência de ostracismo daqueles que estão sendo alijados do circuito da produção e consumo, substituídos cada vez mais celeremente por máquinas.

Denuncia a ideologia de submissão ao trabalho que penetra nosso cotidiano, reproduzindo, no íntimo de nossas mentes, a subserviência ao capital.

Percorrendo sua análise, nem por um instante, cede às tentações fáceis de desacreditar nos homens, na ciência ou na tecnologia. Manifesta uma esperança enorme na História e na
Humanidade e sabe que a ruptura final com a civilização do trabalho e do capital resultará do desdobramento das forças produtivas e da aplicação do conhecimento na apropriação do mundo pelos homens.

É por aí que assume corajosamente o papel de defensor da Civilização do Não-Trabalho e passa a nos comunicar suas conclusões, introduzindo-nos nas implicações desta palavra que era, para ele, quase mágica, carregada de múltiplos sentidos: RUPTURA.

A tese central de Rezk, para citar seu próprio texto, está expressa nestes poucos parágrafos: “Como o trabalho humano é o fulcro da economia política — o trabalhador tanto produz, quanto consome, sendo dela o seu dínamo —, a função econômica do trabalhador precisou ser sacralizada com a ideologia do trabalho. Com isto alimentou-se a auto-estima da massa trabalhadora, ao ponto de ser considerada uma classe, com consciência, cultura e partido próprios. E sacralizada na sua presumida missão libertária.

No entanto, essa consciência, essa cultura e seus partidos políticos nada mais são do que subproduto do modo de produção capitalista, sob o mascaramento da democracia formal, liberalmente dirigida por um simulacro de liberdade: o trabalhador livre.

Pois chegou o tempo do seu desmascaramento, ainda que este desmascaramento seja doloroso ao mundo do trabalho. E um desmascaramento que não se realiza pelo combate ideológico, senão pelo desenvolvimento avançado dos meios de produção — a informática, a robótica e a mecatrônica — que já adquiriram grande grau de independência com relação à energia humana como força de trabalho.

Naturalmente, a decadência do trabalho humano afeta a auto-estima do trabalhador, cuja mente ainda está dominada pela ideologia do trabalho. Subjugado, embora, mesmo assim, o empregado da economia sentia-se parte de um sistema social lógico, embutido na sua mente como algo saudável e próprio da racionalidade humana. Pertencente, pois, a um mundo acabado. É este mundo, configurado na consciência social como algo de extremo valor — o valor da sobrevivência — que o trabalhador sem trabalho (destituído de emprego) perde conclusivamente.

A decadência econômica da mão de obra e da inteligência servil joga bilhões de seres humanos na insegurança do seu devir. Torna ineficiente a organização política da massa trabalhadora.

Aquilo que chamamos de “massa trabalhadora” está perdendo força, em todo o mundo, nos seus embates políticos. O proletário não luta mais por melhores salários e melhores condições de trabalho. Nem por ampliar os seus direitos políticos — que ele está perdendo. Busca qualquer emprego, por qualquer salário. (...)

Por outro lado, a decadência do trabalho humano também afeta as razões de dominação da economia política e de seus arautos, que passaram séculos impondo e louvando a ética do trabalho, enquanto o desenvolvimento do próprio sistema realizava a sua precariedade.” (p.217)

Para chegar até aí, vai tecendo, com toda a paciência, a trama de seus argumentos, buscando nos autores clássicos os fundamentos para a sustentação de suas idéias.

Rezk, como um homem de paz, corajoso e intelectualmente independente, tinha muito ainda a contribuir para a abertura de novas perspectivas para os que desejam a civilização e não a barbárie.

Comprometido com o avanço da História e da Humanidade, procurou descortinar rumos novos, estrategicamente viáveis no cenário controverso da civilização da anomia que assola nosso mundo atual.

No umbral de novas crises que nos dias atuais se caracterizam como efetivamente globais, suas ideias antecipam muitos dos paradoxos que dominarão a luta política e a busca de novas formas de organização social e de luta revolucionária pela superação das desigualdades extremas criadas pelo capitalismo contemporâneo.

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