sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Vereadores conturbam trabalhos da CPI dos Transportes




Desde o turbulento processo de instalação da CPI dos Transportes Coletivos esperava-se algum nível refratário de disposição a “mexer no vespeiro”, mas o que se viu na manhã desta quinta-feira (1/8) superou quaisquer expectativas negativas: foi a representação de uma verdadeira “torre de babel” no Plenário da Câmara. Em vez de jogar luz sobre as contas do sistema, os vereadores preferiram lançar fumaça. 

Os sete membros da CPI passaram a maior parte das duas horas da reunião imersos em uma discussão difusa, mesquinha e ineficaz sobre o que fariam ali. Assim como no episódio bíblico, ninguém se entendeu.

Logo de início, causou constrangimento e estranheza o discurso do novo integrante da Comissão, Roberto Tripoli (PV). Ele assumiu o cargo no lugar do líder da legenda, Dalton Silvano, e usou a tribuna do plenário para justificar sua participação. “Estou aqui porque meu partido tem uma vaga...não votei pela instauração da CPI. Sou antigo na Casa, já vi muitas CPIs aqui na Câmara. Essa Comissão, entretanto, não parte de nenhuma denúncia de corrupção ou mau uso de dinheiro público”, alegou. 

O vereador ainda protagonizou um momento cômico durante suas enérgicas inserções. Ao falar da agremiação à qual pertencia, lembrou dos velhos tempos. “Sou vice-líder do PSDB”, afirmou por engano. Eduardo Tuma, do PSDB e vice-presidente da CPI, chegou a responder com um “bem-vindo de volta”, provocando o riso dos representantes tucanos no plenário. 

A visão de quem estava presente começou a ficar mais embaçada quando o alvo passou a ser o governo do Estado. Não faltaram críticas ao sistema metroviário e de trens, quando o objeto inicial da investigação era a esfera municipal. A polarização PT x PSDB, como não poderia deixar de ser, entrou em cena e consumiu e deixou o presidente da Comissão, Paulo Fiorilo (PT), visivelmente desconfortável com as discussões entre os componentes, que a cada instante inventavam novas maneiras de se desentender.

Grandes Ideias

No calor dos debates e a cada fala, os vereadores da Comissão de Inquérito traziam à tona temas contextualizados com o problema da mobilidade, mas completamente fora do propósito de uma comissão de inquérito. Tripoli sugeriu a realização de um plebiscito para tratar dos temas de mobilidade urbana de São Paulo. No mesmo rumo, Adilson Amadeu (PTB), citou a necessidade de cobrança para circulação do usuário de automóvel na cidade. “Se houvesse boa vontade dos governos estadual e municipal, haveria pedágio urbano”, disse.

Em sua já conhecida ironia, Milton Leite (DEM) ainda sugeriu, enquanto se reclinava na poltrona em clara demonstração de insatisfação, a volta dos chamados belichões, ônibus de dois andares inspirados nos modelos londrinos que não foram bem aceitos quando trazidos para a capital paulista na década de 80. “É a solução”, afirmou.

Predestinada

Os requerimentos apresentados ao fim da reunião reforçaram a tendência burocrática dos trabalhos, seguindo a linha superficial das análises das planilhas e do funcionamento interno das empresas.

Em um dos poucos momentos propositivos da sessão, Eduardo Tuma (PSDB) requereu a presença de representantes dos grupos Sambaíba, Ruas e Santa Brígida, três dos concessionários que administram os ônibus paulistanos. O pedido de Tuma, entretanto, não foi aceito na forma oral e precisará ser feito por escrito para ter validade. 

“O meu gabinete encaminhou quatro requerimentos para serem apresentados pelo vereador Eduardo Tuma. Um deles diz respeito às multas aplicadas pela SPTrans no setor, que somam cerca de R$ 5 milhões ao mês. O documento não foi citado pelos parlamentares”, explicou Ricardo Young (PPS).

“Como já era de se esperar, se não houver pressão, a CPI dos Transportes continuará a fazer de tudo para não avançar, gerindo suas próprias mesquinharias. Os desacordos entre os membros demonstram a pouquíssima vontade política de fazer com que se saiba o que realmente acontece no setor e, de uma vez por todas, se oferecer algo que incrivelmente ainda parece tão utópico: um sistema eficiente de mobilidade”, concluiu Young.

Veja aqui todos os requerimentos aprovados e as notas taquigráficas até a sessão de 1º de Agosto.

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