sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Roberto Freire - Mooca: há 455 anos motivo de paixão e orgulho

*Por Roberto Freire

No último dia 17 de agosto, a Mooca completou 455 anos. Quando o assunto é o bairro paulistano que está entre os mais tradicionais da cidade, impossível não lembrar certas referências que são suas marcas registradas. Uma delas é a cultura italiana tão arraigada e presente em sua formação e na formação da cidade; outra é a paixão e o orgulho que lhe são devotados.

Além de contar com profunda simpatia e admiração por parte expressiva dos paulistanos e brasileiros em geral, bastando para isso, tê-lo visitado ou conhecido sua história e seus personagens, o bairro da Mooca conta ainda com um bairrismo (no bom sentido), cultivado por seus moradores, que é a síntese desta paixão e orgulho, tão evidentes ao nos depararmos com um mooquense, pois trata-se de um sentimento que irradia. É também berço de personalidades, como José Serra, que também não esconde sua paixão pelo bairro.

Motivos para tal orgulho não faltam, já que o bairro tem sua história diretamente ligada à consolidação da economia paulistana, situada entre as mais pujantes do país.

Seu passado industrial abriga tanto o êxito econômico devido ao estabelecimento de grandes indústrias, dentre as quais fábricas do porte da Cervejaria Bavária, depois vendida à Companhia Antártica Paulista, Johnson & Johnson e São Paulo Alpargatas, quanto uma efervescência cultural e o desenvolvimento de um ativismo político muito grande, uma vez que o proletariado nestas fábricas constituía o foco da militância anarquista e socialista. Eram tempo de lutas pelos direitos dos trabalhadores -- e dessas lutas surgiria, em 1922, o Partido Comunista Brasileiro. Também nas greves gerais do ABC, das quais participei, ocorridas no auge dos movimentos sindicais e operários em fins da década de 1970, parte significativa dos trabalhadores que ali estavam era oriunda de fábricas da Mooca.

Nem só de memórias vive o carismático bairro da Mooca. Sua história também carrega outros acontecimentos que colaboraram para este sentimento de orgulho, ter sediado o Jockey Club de São Paulo, quando de sua inauguração em 1875 (juntamente com a estação de trem Hipódromo, da linha que ligava Santos a Jundiaí, da São Paulo Railway), por exemplo, fator que sem dúvidas inseriu o bairro antes predominantemente industrial no circuito social da época, destaca-se também a criação do clube Atlético Juventus e, mais tarde, o Teatro Artur Azevedo e o Museu do Imigrante.

Conhecida também pela quantidade (e qualidade) de suas cantinas e pizzarias, como não poderia deixar ser, a Mooca de hoje segue o modelo de desenvolvimento de outros bairros tradicionais da cidade, como o seu vizinho Belém, Perdizes, Pompéia e Barra Funda, entre outros, a conversão em bairro residencial e consolidação do setor de serviços e pólo educacional com a instalação de instituições de ensino superior, dentre as quais, a Universidade São Judas e a Anhembi-Morumbi.

Assim sendo, apresenta desafios parecidos, problemas de ordem estrutural, como o de uso e ocupação do solo, que precisa ser distribuído de forma democrática e sustentável, assunto tão caro à população e que necessita de um tratamento equilibrado e justo.

Mais do que respeito, a história da Mooca evidencia e justifica o orgulho e a paixão dos mooquenses, forjada por erros e acertos, mas sem dúvida alguma por grandes avanços e conduzida por um povo que antes de tudo é trabalhador, alegre e apaixonado e que faz a Mooca ser o que é e que também é parte deste orgulho.

*Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS (Partido Popular Socialista)

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