quinta-feira, 20 de junho de 2013

Polícia pede desculpas à imprensa na Comissão de Direitos Humanos



Fotos - Renattod´Souza - Câmara

Jornalistas, fotógrafos, parlamentares e representantes da Polícia Militar discutiram nesta quinta-feira (20/6) as queixas de profissionais da imprensa quanto aos abusos cometidos pelas forças de segurança durante as manifestações contra o aumento da tarifa do transporte público na cidade. O foco do debate, convocado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, foi em torno do 4º ato promovido pelo Movimento Passe Livre, na noite da última quinta-feira (13).

“Isso aqui não é defesa de classe. As histórias que ouvimos daquele dia, mais do que a minha, são suficientes para constatar que ninguém deveria ter sido maltratado como nós fomos na rua”, afirmou Giuliana Vallone, repórter da Folha de S. Paulo alvejada por um tiro de bala de borracha no olho direito enquanto cobria o 4º ato. “Todos nós da equipe estávamos com crachás, mas acho que o policial não conseguiu enxergar. Vi que ele apontava para mim, aquilo tinha acontecido algumas vezes no dia, mas não achava que ele iria atirar. Ele disparou, fiquei em choque. Me levaram para o hospital,  o diagnóstico inicial era de seis meses para saber se eu voltaria a enxergar.  Para minha sorte, acordei na sexta-feira enxergando”, contou.

A maioria dos jornalistas presentes relatou ter sofrido abusos, como agressões e abordagens indiscriminadas, por parte dos policiais deslocados para a operação no centro da cidade. Uma faixa foi colocada na mesa dos debatedores com a foto do fotógrafo Sérgio Silva, da Futura Press, que também foi atingido no rosto e corre o risco de perder a visão do olho esquerdo.

Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, José Augusto Camargo, foram contabilizadas dezenove agressões e três detenções de profissionais da imprensa durante o protesto. “Enviamos ofício à Corregedoria da Polícia um dia antes do ato, solicitando atenção especial sobre potenciais abusos que poderiam ocorrer. Estávamos atentos a esse problema”, afirmou.

O Coronel Glauco Carvalho, diretor da Polícia Comunitária e de Direitos Humanos da PM, desculpou-se pelos abusos cometidos por oficiais durante os protestos. “Gostaria de, em nome da instituição, me desculpar pelas lesões sofridas pelos jornalistas. Nada justifica esse tipo de ato”, declarou. “Entretanto, é necessário dizer que não criminalizamos movimentos sociais. O que fazemos é individualizar atos de vandalismo e depredação do patrimônio”, afirmou. O Coronel também justificou a dificuldade da corporação em dialogar com os organizadores. “Não há institucionalização dos grupos, eles não querem a participação de partidos políticos com quem poderíamos estabelecer consensos. Pretende-se fazer a política sem a política”, afirmou.

O vereador Ricardo Young (PPS), criticou a ação da corporação. “A Polícia viu os manifestantes como revolucionários ou subversivos e está claro que não está preparada para enfrentar esse tipo de manifestação. Esses protestos tinham um espírito extremamente inovador. A política agora se dá de maneira diferente”, disse. “Todos nós devemos refletir profundamente sobre o significado das manifestações para além dos casos tristíssimos que ouvimos aqui”, concluiu.

A Comissão de Direitos Humanos enviará à Corregedoria da Polícia um requerimento solicitando documentos sobre as ordens do Comando da Polícia na operação.

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