Carlos Fernandes, presidente municipal do PPS/SP
Caro prefeito, se o senhor, como afirma, está realmente ouvindo a "voz das ruas" e pretende mostrar que a promessa do "novo" não foi apenas um slogan eleitoral, está nas suas mãos fazer uma gestão-modelo à frente da Prefeitura de São Paulo.
Que o bem sucedido movimento pela redução da tarifa possa lhe inspirar a atender o que é prioritário para o cidadão paulistano. Como foi dito nas ruas, não eram apenas os 20 centavos: é a qualidade do transporte público, da saúde, da educação, da moradia, da descentralização administrativa e da eficiência no atendimento das subprefeituras, por exemplo, o que cobra a população.
Em vez de argumentar que, por conta do recuo no aumento do ônibus, serão sacrificados os investimentos no município, elegendo injustamente como vilões as creches, as escolas e os hospitais, que tal começar pela eficácia e pelo enxugamento da própria máquina administrativa?
Pois vejamos: se em 2013 o prejuízo no caixa municipal, como alega Haddad sem os R$ 0,20 adicionais, será da ordem de R$ 175 milhões por conta do subsídio para custear o transporte na cidade, de onde a Prefeitura pode tirar esse dinheiro? (E que não seja das áreas sociais, como é dito agora, meio em tom de ameaça, meio de álibi preventivo).
Ora, a Prefeitura acaba de abrir mão de cerca de R$ 150 milhões ao isentar motoristas da inspeção veicular obrigatória, um retrocesso ambiental inexplicável quando em todos os países mais desenvolvidos vale o princípio do poluidor-pagador.
Outros R$ 25 milhões, em média, estão sendo gastos com 348 cargos de livre provimento criados no município, para atender as novas secretarias implantadas na gestão petista, e a ocupação de outros 390 cargos que estavam "congelados" na administração anterior.
Esses dois únicos itens (inspeção veicular e enxugamento de cargos) já fecham o suposto rombo de R$ 175 milhões causado pela revogação do aumento de R$ 0,20 da tarifa no caixa de 2013. Mas não é só isso: uma gestão moderna deve primar pela economia, pela transparência e pela eficácia, certo? Será que não há outros cortes e ajustes possíveis entre 30 secretarias municipais e um Orçamento de R$ 36,8 bilhões?
Aí avaliamos outros dados deste primeiro semestre de gestão: as multas por desobediência à Lei da Cidade Limpa caíram 90% em relação ao ano passado; as multas pelo desrespeito ao PSIU (Programa de Silêncio Urbano) caíram 26%. Parece coisa ínfima, mas demonstra o afrouxamento da administração na fiscalização do cumprimento de leis. Enquanto isso, penaliza o usuário do transporte público com o aumento de tarifa.
Na realidade, o fantasma que ronda as finanças da Prefeitura não são os R$ 0,20 e sim a escalada da inflação e a alta dos juros da dívida com a União, além da mencionada má gestão. Como cumprir as promessas ditadas pelo marqueteiro da campanha de 2012, se o igualmente prometido socorro do governo federal parece ter se esgotado? A manipulação das tarifas acaba sendo a saída mais fácil para atender à conveniência política imediata.
Com os problemas cotidianos, a mobilização e a cobrança crescente dos cidadãos paulistanos é que veremos se Haddad é, de fato, "um homem novo para um tempo novo", ou simplesmente mais do mesmo, do velho PT.
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