Logo após o pronunciamento do Coronel Telhada (PSDB), que falou sobre os atos de vandalismo e a ação da PM durante os protestos na capital, declarando que "no Brasil, direitos humanos é uma piada", o vereador Ricardo Young (PPS) criticou a fala do parlamentar.
“Somente pelo fato de o senhor estar se manifestando democraticamente aqui já mostra um dos benefícios dos Direitos Humanos. A Polícia ontem agiu a favor desses benefícios. Mas daí a dizer que ela tem direito de abusar deles é um equívoco”, afirmou Young. “As pessoas esperam que a corporação seja seletiva. Ela cumpre um papel importantíssimo, mas vem sendo submetida a testes e precisa reconhecer quando comete erros. Direitos humanos é condição fundamental para que se exerça democracia”, disse.Leia abaixo a íntegra dos discursos dos dois vereadores.
Ricardo Young
"Sr. Presidente, estava satisfeito com a fala do nobre Vereador Coronel Telhada, ao referir a importância da polícia, o quanto ela está ao lado da população. Mas houve uma parte da sua fala que discordo, porque tenho certeza de que não foi exatamente o que quis dizer. Quando diz: “Direitos humanos – não sei o que é direitos humanos, para mim nunca serviu para nada” – apenas lembrá-lo que a própria condição de estar aqui neste Parlamento, falando e expressando sua opinião é um exemplo de que, com muita dificuldade, conseguimos o direito de que as pessoas participassem democraticamente e se fizesse representar democraticamente.
A polícia sim, deu um exemplo de direitos humanos na manifestação de segunda feira. Eu mesmo, na Av. Paulista, cumprimentei pessoalmente o comandante pela lisura, pela tranquilidade com que escoltava o direito dos manifestantes se manifestarem. Agora, dizer que porque as pessoas se manifestam a polícia tem o direito de abusar dos direitos humanos, é claro que não posso concordar. Acho que a polícia, e é o que a população espera, é que ela seja seletiva: bandido na cadeia e tem de ser reprimido, atos de vandalismos precisam ser reprimidos, mas não confundir manifestante legítimos, que estão em pleno direitos de manifestação, com vândalos. Foi o que ocorreu, infelizmente, quinta-feira passada.
Concordo com o Coronel Telhada, a polícia, vem sim, cumprindo um papel importante, mas também vem sendo submetida a testes e também cometeu abusos que estão sendo corrigidos, mas não podemos esquecer que foram cometidos. Assim como os manifestantes cometeram abusos e estão também corrigindo esses abusos. É assim que se constrói a democracia. E direitos humanos é condição necessária para que possamos ter uma segurança que não esteja a serviços de outros interesses. Muito obrigado!".
Telhada
Quanto à citação pessoal, quero deixar bem claro que tudo que falo, não leio, não pesquiso e não ouvi dizer. Passei em minha vida.
Estive à frente da Polícia Militar, estive servindo na Polícia Militar, 33 anos e a maioria de meu tempo de carreira foi à frente de tropa, foi dentro de viatura de radiopatrulha, viatura de Tático Móvel e viatura de ROTA.
Fui baleado em 1990, quando era tenente de ROTA. Fui baleado em 1995, quando era Capitão do 4º Batalhão. Em 2010, sofri um atentado, tomei onze tiros em frente à minha residência e na época o Coronel Camilo era o Comandante da Polícia Militar e esteve me prestigiando, o Capitão Conte Lopes era Deputado Estadual e esteve me prestigiando, o Sr. Secretário de Segurança Pública, Dr. Ferreira Pinto, esteve em minha casa me prestigiando. Mas nunca nenhum órgão de direitos humanos me ligou, ou para qualquer Policial Militar, ou para a família de Policial Militar que tenha sido morto, para saber se o pessoal estava bem, se estava precisando de algo, se poderia ajudar.
Então, digo claramente aqui e doa a quem doer: no Brasil, direitos humanos é uma piada! Direitos humanos é politicagem! Direitos humanos é só para defender criminoso, para sair na televisão e falar que está preocupado com alguma coisa, mas não está não.
Quando uma pessoa é morta na rua, quando um pai de família é morto, quando um trabalhador é morto, também não aparece ninguém dos direitos humanos para saber se aquela família precisa de algo.
Aliás, já está na hora de nós, políticos, acordarmos e criarmos um plano de assistência às vítimas, como o nobre Vereador Ota tem feito. O plano do nobre Vereador Ota é muito bom e temos de prestigiá-lo, porque a vítima é totalmente esquecida e fica largada.
Até onde entendo, direitos humanos deveria cuidar de todos os humanos, não somente das pessoas criminosas, e é assim que acontece no Brasil.
Sou o primeiro, como Policial Militar, a defender os direitos humanos, porque quando ingressamos lá – eu, o Coronel Camilo e o Coronel Conte – tínhamos 17 anos e juramos sacrificar as nossas vidas, se preciso.
Quero saber quantos dos senhores já fizeram um juramento assim. Fizeram um juramento de dar a vida por uma pessoa que sequer conhecem? Pois nós fizemos. Infelizmente, milhares de policiais militares, não só em São Paulo, mas no Brasil sacrificaram a suas vidas ganhando um mísero salário, porque assim juraram.
Infelizmente, os policiais militares são um dos poucos segmentos – e não vou falar que são os únicos porque poderia cometer uma inverdade -, para quem não sabe, que têm um cemitério, têm um mausoléu, e não cabe mais gente lá dentro!
Então, não venha me falar em direitos humanos, porque sou um cara superdemocrático, sou um cara que ajuda todas as pessoas, só que não suporto esse papo furado, porque, para mim, falar em direitos humanos é papo furado. Direitos humanos têm de cuidar de todos.
Esses cidadãos que estão nas galerias, são pessoas humildes que estão correndo atrás de seus direitos, se eles forem vilipendiados, se sofrerem algum crime, ninguém vai se preocupar. Na hora em que tiverem alguma necessidade sabe o que vão fazer? Vão ligar para o 190 e vai uma viatura de radiopatrulha cuidar deles, porque é o único órgão do Estado e da Prefeitura, os policiais que estão na rua e que podem atender, e ficam limitados porque não podem fazer tudo.
Aí, ouço dizer que não gosto de direitos humanos, Não é que não gosto...
...podem fazer tudo. Aí ouço dizer que eu não gosto de direitos humanos. Não é que eu não goste de direitos humanos. É que para nós os direitos humanos não existem. Então, no dia em que eu vir organização de direitos humanos cuidando de policial militar, de pai de família, vou falar: sou fã dos direitos humanos. Mas até hoje, com 51 anos de idade, com mais de 34 anos de serviços contando a aposentadoria, nunca vi qualquer órgão de direitos humanos se preocupar com pai de família ou policial militar.
Então não venham me acusar: o Coronel é categórico, é radical. Não sou radical. Sou uma pessoa que não se conforma com a maneira que o policial e o pai de família são tratados no Brasil. E sou polícia militar futebol clube. Não aceito que falem mal da minha polícia, porque temos erros como todo serviço tem, o policial vem do povo. Só que na nossa corporação, quando um policial comete um erro, há a Corregedoria que corta a própria carne doa em quem doer. A Polícia Militar não deixa nada encoberto. Qualquer acusação contra qualquer policial militar vai virar uma sindicância, pode virar um inquérito policial militar, o policial vai bater as costas no Romão Gomes, que é o presídio militar, e vai ser expulso da Polícia se for culpado.
Então sou um dos maiores defensores de direitos humanos, porque eu arrisco minha vida todos os dias. Eu, policial, arrisco minha vida todo dia pelo meu semelhante. Eu tomo tiro todo dia. Os senhores viram a polícia na rua ontem. Meu filho de 26 anos ficou até 4h dentro de uma viatura da ROTA, com seu pelotão, como milhares de outros policiais, arriscando a vida pela população. Então não venham me falar em direitos humanos, porque isso no Brasil é uma piada. Muito obrigado".
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