segunda-feira, 27 de maio de 2013

Artigo: O Doi-Codi e o antídoto


Ricardo Young
Foto - Renatto d´Souza

Acompanhei na manhã dessa segunda-feira (27/5) a visita de Silvado Leung, fotógrafo autor da foto da morte do jornalista Vladimir Herzog, ao antigo prédio do Doi-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna). A convite da Comissão Municipal da Verdade, da qual sou membro, ele veio fazer o reconhecimento do lugar onde tirou uma foto histórica e simbólica da repressão. A visita confirma quão pouco se sabe sobre o que realmente aconteceu naquele lugar. 

Embora a área de carceragem tenha sido modificada, o espaço onde eram feitas as torturas estava intacto. Leung apontou uma sala como “idêntica” àquela em que fotografou o corpo de Herzog, porém não a reconheceu com certeza, porque não se lembra de ter subido escadas naquela ocasião, como havia feito hoje. O presidente da Comissão e ex-preso político, vereador Gilberto Natalini, acredita que a sala era no andar de baixo do prédio. Ele também descreveu em detalhes outros locais, como o interrogatório e o pau de arara. 

Diante de toda a emoção dos ex-presos políticos ali presentes e também do fotógrafo, tive certeza que a violência praticada naquele lugar deixa muito pouco a dever em relação ao que aconteceu no Holocausto, apesar de ser um processo individualizado, e não em massa. Se o objetivo não era a morte da pessoa, era pior. 

Foi assim na União Soviética, na Revolução Maoísta da China e até na Revolução Francesa. Em nome do que fosse, os momentos de maior crueldade vividos pela humanidade aconteceram sempre sob o poder absoluto. 

Muitas vezes, quando nós encontramos as dificuldades da democracia, e não são poucas, algumas pessoas tendem a achar que saídas autoritárias seriam mais adequadas. Mas ao defenderem esse caminho, elas não têm ideia do quanto o poder absoluto pode causar corrupção no caráter humano. Contra a loucura do ser humano investido de poder autoritário, a democracia é o único antídoto. 

O Doi-Codi poderia ser transformado em um museu e trazer à tona a memória dos que passaram por ali. As pessoas não podem esquecer, para que essa história não corra o risco de se repetir.

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