Site da Câmara (Thais Lancman)
A ex-militante do Partido Comunista Brasileiro, Sarita D'Ávila Mello, depôs na Comissão da Verdade municipal nesta segunda-feira (20/5). Foi a primeira vez em que ela contou publicamente o que viveu durante o regime militar, inclusive sobre o período em que ficou presa no DOI-CODI.
O pai de Sarita, também militante, era primo de um general, Ednardo D’Avila Mello. Embora eles tivessem pouco contato, o militar foi acionado quando Sarita foi presa. “Foi um papo rápido e diplomático, para preservarem a minha vida”, lembrou Sarita. Ela foi presa em casa, não fugiu, e seu pai foi com ela até o DOI-CODI. “Ele queria saber onde isso ia dar, mas chegando lá mandaram ele embora”.
Sarita contou que não ficou na mesma cela que outras presas. Enquanto esteve detida — não se lembra ao certo por quanto tempo, algo entre uma semana e dez dias —, foi constantemente ameaçada. Um dia, foi levada para dar depoimentos e começou a levar choques. Foi a única tortura física que recebeu. Nessa hora, o general Ednardo entrou na cela.
“No primeiro momento, me assustei porque ele era muito parecido com meu pai. Depois ele disse: ‘seu pai tem razão, você é muito frágil’. E pediu para os torturadores me prepararem um suco de laranja”, narrou. Segundo Sarita, ela só aceitaria o suco se fosse oferecido para todos os outros presos também. No fim da tarde, não recebeu a bebida, mas foram distribuídos a todos café com leite e pão com manteiga.
Para ela, a suposta proteção que teria recebido na prisão não gerou mal-estar entre as companheiras. “Houve um constrangimento muito rápido com uma das presas, mas passou e todas se uniram em volta de mim”. Com o militar, ela não teve mais contato. “A imprensa me chamava de sobrinha, ele dizia que não importava, se era comunista, devia ser preso. Mas tudo indica que ele deu ordens para não me darem tortura física”, observou. “Se ele foi lá é porque sabia o que acontecia.”
Próximos passos
O vereador Gilberto Natalini (PV), presidente da Comissão da Verdade, afirmou que continua em busca do depoimento de Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda durante o regime militar.
“Precisamos saber o lado de quem financiava essa história”, justificou. Entretanto, em contato com o escritório do economista, o parlamentar assumiu que a assessoria tem sido enrolada. “Temos recebido todo tipo de desculpas, mas continuamos tentando”, afirmou.
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