Thais Lancman (Site da Câmara)
Foto - Renatto d´Souza
O antigo portão do DOI-Codi é a lembrança mais forte que
Silvaldo Leung Vieira possui do local. Em 1974, poucos dias após completar 22
anos e com duas semanas de curso para se tornar fotógrafo da polícia, ele
atravessou o pátio da sede das instalações e chegou à sala em que deveria fazer
a foto de um cadáver. O que ele acreditava ser parte do seu treinamento acabou
tornando-o famoso quase 40 anos depois: o fotografado era Vladimir Herzog,
enforcado com um cinto. Era a tentativa do regime militar de comprovar a tese
de que ele havia cometido suicídio na prisão.
Silvaldo contou que não sabia quem era Vlado. Ao
fotografa-lo, estranhou um suicida cujos pés encostavam o chão, e chegou a
comentar o fato com familiares e amigos. Mais informações, Vieira só teve em
conversas que escutou de militantes do movimento estudantil da USP: “O nosso
curso era no campus e nós frequentávamos os mesmos lugares”, contou. Pouco
tempo depois, Silvaldo se mudou para Los Angeles, onde vive até hoje.
Entretanto, ao ter sido descoberto como autor da foto de Herzog, não hesitou em
vir ao Brasil e ao DOI-Codi para tentar reconstituir como tudo ocorreu. “Eu me
coloquei à disposição e espero que outras pessoas, que sabem mais do que eu,
façam isso também”, disse.
O atual Distrito Policial da Rua Tutoia sofreu diversas
alterações desde a ida de Vieira ao local. Porém, há algumas pistas para as
celas que podem ter sido cenário da foto: a ausência de escadas no trajeto que
ele fez pelo pátio, e o formato da janela presente na imagem. “A única coisa
que eu lembro é que eu fiquei na porta, não entrei”, disse Silvaldo sobre a
experiência, que não durou mais que 15 minutos.
A ida do ex-fotógrafo ao DOI-Codi nesta segunda-feira (27)
foi uma atividade da Comissão municipal da Verdade, e ele esteve no local
acompanhado de parlamentares. Para o presidente do colegiado, vereador Natalini
(PV), o fato de Silvaldo não lembrar exatamente o local da foto não diminui a
importância do seu depoimento. “Ele participou do ato e diz que tem certeza
absoluta que o Herzog já estava morto antes. Isso o Brasil já sabe, mas é
importante ter o registro oficial”, afirmou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário