terça-feira, 29 de outubro de 2013

Especialistas criticam interferência de capital imobiliário na revisão do Plano Diretor



Privilégio às empreiteiras. Essa foi a principal crítica apontada pelos especialistas que estiveram nesta terça-feira (29/19) durante o debate “Olhares sobre o Plano Diretor”, realizado no Salão Nobre da Câmara, e que reuniu especialistas em arquitetura e urbanismo, vereadores e a população em geral. 

O projeto aprovado em 2002 está em processo de revisão e já foi encaminhado à Câmara para votação.

Os arquitetos e urbanistas criticaram o espaço que o setor imobiliário vem ganhando na reelaboração da proposta. “O plano diretor que está aí é imobiliário. Ele não dá atenção às demandas sociais, o que é absurdo e vai contra o que sugere a Constituição. O setor imobiliário não pressupõe o cálculo de adensamento para a cidade. Não avalia a quantidade de carros que será introduzida em cada região onde prédios novos serão construídos”, apontou o planejador urbano e ex-secretário de planejamento Cândido Malta.

As críticas também foram de encontro ao processo de consulta à população e a especialistas na construção da nova proposta, que passou por algumas audiências públicas antes de ser enviada ao Legislativo. “A participação da população é uma falácia. Até mesmo nós do conselho municipal de planejamento não conseguimos ter voz. A população fica cada vez com menos poder de veto” argumentou a presidente do movimento Defenda São Paulo, Lucila Lacreta.

Demanda ecológica

Os palestrantes também apontaram para a necessidade de tratar melhor a questão ambiental no planejamento da cidade. A abrangência do Plano Diretor ao tema foi criticada pelos especialistas, que disseram haver poucas citações do assunto no documento.

“O plano não tem uma dimensão ecológica na leitura que faz da cidade. Há pouco conhecimento de zonas verdes e o reuso de materiais e da água não é incentivado em nenhum momento”, ponderou o professor Euler Sandeville, da Universidade de São Paulo.

O vereador Ricardo Young (PPS) ainda lembrou a obrigação do município de tratar do tema. “Existe uma política municipal de mudanças climáticas que precisa ser levada em consideração em qualquer estratégia do governo. Mais ainda, precisamos compensar nossa pegada ambiental, que é altíssima”, ponderou.

Pressa política

O que sai mais caro para a cidade, segundo os participantes, é a pressa com que está sendo articulada a votação do projeto. “O prazo é político, não deu tempo para apontar todos os problemas e suas soluções”, criticou ainda a arquiteta Lucila Lacreta. Segundo ela, os efeitos do curto tempo para a elaboração da proposta serão “destruidores e vão contra todo o bom senso urbanístico”.

“Somos apenas 12 vereadores de oposição aqui, contra 43 da base do governo. Eles passam por cima de tudo e todos, se quiserem. Para mudar esse quadro, o melhor mecanismo é a participação popular”, argumentou Mario Covas Neto (PSDB), organizador do evento ao lado dos vereadores Toninho Vespoli (PSOL), Gilberto Natalini (PV) e Ricardo Young, que prometeu manter as críticas ao projeto enviado à Casa. “Podemos até perder a discussão, mas não nos omitiremos em nossas posições no sentido de melhorar essa proposta”, disse.

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