terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ex-presos políticos explicam detalhes das ações dos ditadores



Câmara Municipal 

Ivan Seixas, ex-preso político e consultor da Comissão Estadual da Verdade, rejeita a expressão “porões da ditadura”. Utilizada para se falar das torturas que ocorreram durante o regime militar, não refletem como se deram os acontecimentos, de forma “ostensivamente pública”, diz ele.

Seixas explicou que a estrutura era fortemente hierárquica e todos os níveis sabiam das ações dos órgãos de repressão. O SNI (Serviço Nacional de Informações), órgão central, se reportava diretamente à Presidência: “Era o centralizador e de planejamento”, resumiu Seixas.

Ele também falou, nesta terça-feira (22/10), durante reunião da Comissão da Verdade Municipal, do desaparecimento do deputado federal Rubens Paiva, em 1971. “Foi um acerto de contas por ele ter denunciado o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática)”. IBAD era uma instituição militar fechada pouco antes de 1964, após denúncias de Paiva de desvio de dinheiro. Ao lado do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais), esses órgãos foram os mecanismos que os militares utilizaram para estruturar o golpe. 

 “Golpe Militar foi o crime que deu início a todos os outros”

Além dele, esteve presente na reunião Carlos Eugênio da Paz, o Clemente, que participou da luta armada da Ação Libertadora Nacional (ALN), na qual também atuou Carlos Marighella. Clemente é o único comandante da organização que permanece vivo. O contato com Marighella, disse ele, mudou sua vida. “Era um ex-preso, deputado federal de um mandato interessantíssimo, escutando um garoto”, lembrou do período em que iniciou a militância, aos 15 anos de idade.

Para Clemente, as ações da ALN e toda a luta armada precisam ser analisadas à luz do que o país vivia na época. “Se vocês pensarem com a cabeça de hoje sobre o que acontecia no meio de uma guerra, vão considerar tudo um erro, só que guerra é guerra”, ponderou, falando inclusive dos “justiçamentos”, execuções de militantes pelo próprio grupo.

Clemente também é cuidadoso ao falar dos militares. Isso porque “o golpe foi feito pelo alto escalão do exército”. “Temos que voltar a ter a imagem do militar como a do pracinha que lutou contra fascismo na Segunda Guerra, não daqueles que foram comprados para mudar de lado”, completou, lembrando que chegou a servir o exército no Forte de Copacabana, passando inclusive por treinamentos antiguerrilha para repassar as informações a Marighella.

Clemente defende que, mais importante do que contabilizar as vítimas da ditadura, é preciso “responsabilizar a direita pelo golpe e todos os outros crimes”. “O golpe foi o crime que deu início a todos os outros”, ressaltou.

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