terça-feira, 23 de abril de 2013

Ex-delegado desvenda bastidores do “terror”; Comissão vai ouvir Ivo Herzog



Síte da Câmara

A ida do vereador Natalini (PV) ao Espírito Santo para entrevistar o ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra marcou o início de uma busca da Comissão da Verdade municipal por depoimentos de agentes do regime. Guerra, segundo ele próprio, “ficava clandestinamente à disposição do escritório do SNI (Sistema Nacional de Informações)” e realizava execuções a pedido do órgão. Assista a entrevista em vídeo.

Entre suas atividades na cidade de São Paulo, Guerra  afirmou ter feito pelo menos três execuções a pedido do SNI. Mesmo para ele a operação era sigilosa. “Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a execução”, explicou. Guerra afirmou, embora soubesse de tudo que acontecia durante a ditadura, nunca torturou ninguém.

Anos depois, Guerra “passou de executor a estrategista”. “Depois de 1980 ficou decidido que seria desencadeada em todo o país uma série de atentados para jogar a culpa na esquerda e não permitir a abertura política”, lembrou, assumindo a autoria de uma explosão no jornal O Estado de SP.

Claudio Guerra falou de Coronel Brilhante Ustra e do delegado Sérgio Paranhos Fleury, que,  segundo ele, “cresceu e não obedecia mais ninguém”. “Fleury pegava dinheiro que era para a Irmandade (entidade que financiava a atividade dos militares)”, acusou. Guerra também confirmou que Fleury torturava pessoalmente os presos políticos e metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976.

“Eu estava na cobertura, fiz os primeiros disparos para intimidar. Entrou o Fleury com sua equipe. Não teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.

Sobre as quantias recebidas pela Irmandade, Guerra disse que “recebia por determinadas operações bônus em dinheiro”. As arrecadações, ele afirmou, vinham do Banco Mercantil do Estado de São Paulo e empresas como a Ultragás e a Folha de SP. “Frias (Otávio, então dono do jornal) visitava o DOPS, era amigo pessoal de Fleury”, observou. De acordo com ele, a Irmandade garantiu que até hoje antigos membros tivessem uma boa situação financeira.

Claudio Guerra também falou sobre os sepultamentos clandestinos e as cremações. “Enterrar estava dando problema e a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar. Buscava os corpos da Casa de Morte, em Petrópolis, e levava para a Usina de Campos”, relatou.

Hoje, Cláudio Guerra é pastor evangélico da Assembleia de Deus. “Minha historia é feia, não me orgulho dela, quero passar a limpo”, disse. Segundo o vereador Natalini, o ex-delegado teria explicado que está “tentando ganhar a salvação pelo que fez contando as barbaridades do passado”. “Conversei muito para deixá-lo a vontade , não fui lá para julgá-lo”, observou.

Outros membros da Comissão da Verdade elogiaram a atitude de Natalini que, mesmo tendo sido preso e torturado durante a ditadura, foi ao encontro de Guerra e fez a entrevista. O presidente do colegiado reiterou que irá ainda ouvir os coronéis Ustra e Calandra.

Marin

O vereador do PPS, Ricardo Young, apresentou requerimento convidando o empresário Ivo Herzog a prestar esclarecimentos sobre a campanha para destituir José Maria Marin da presidência da CBF e do Comitê Internacional da Copa.

A Comissão também aprovou os seguintes requerimentos: 

Informe sobre a reunião com Sérgio Trani, superintendente do Serviço Funerário Municipal;

Informe sobre aprovação de projeto criando a Praça Vladimir Herzog;

Informe sobre os convites ao ex-ministro Antonio Delfim Netto, para que preste depoimento na reunião do próximo dia 7 de maio, e ao coronel da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra, para que deponha no dia 21 de maio;

Apresentação de requerimento para ouvir o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira, o autor da fotografia em que o jornalista Vladimir Herzog aparece enforcado, cuja cenário foi uma fraude montada pelos responsáveis pela morte do jornalista sob tortura;

Apresentação de requerimento do Vereador Mário Covas Neto para que a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo forneça a relação de pessoas desaparecidas no período da ditadura militar em âmbito do Estado e do Município de São Paulo.

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