terça-feira, 5 de março de 2013

Crack: o debate precede o combate


"Estou mais feliz que cachorro com dois rabos!" Pode ser difícil de acreditar, mas essa frase foi dita em pleno debate sobre crack, cracolândia e internação compulsória, durante a Segundas Paulistanas

Felicidade, nesse caso, era devida à oportunidade de debater. É que o evento, promovido ontem na 
Câmara Municipal, pelo vereador Ricardo Young (PPS), caminhou por uma abordagem propositiva. O objetivo que reuniu mais de 80 pessoas ali foi o levantamento de ideias sobre como o poder público municipal pode agir diante do problema do crack. E aí, quando o tema complexo recebe espaço para as diversas propostas e luz para que elas se encontrem, o clima de impasse vai se substituindo pelo de cooperação. 

Participação 

Esta edição do evento incorporou as sugestões deixadas no debate anterior e, com isso, ganhou um formato circular e horizontal, ou seja, todo o público participava de forma equivalente na discussão: não havia aqueles poucos que vieram para falar e outros muitos que só podiam ouvir. Todos se apresentaram. Mais de trinta especialistas no combate ao crack sentaram lado a lado com ex viciados, vizinhos da cracolândia, pessoas curiosas, representantes do poder público e também os vereadores Eduardo Tuma (PSDB), George Hato (PMDB) e Jean Madeira (PRB). 

Entre um bloco e outro de conversa, a equipe do vereador Young apresentava os projetos de lei que já haviam sido propostos na Casa sobre o tema. O debate foi aberto com uma reportagem em vídeo, que mostrava as alternativas de tratamento feitas por entidades sociais ou religiosas e também a dificuldade de se conseguir uma internação no Centro de Referência para Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD-SP). 

Sobre essa situação, o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Antônio Carlos Malheiros, se mostrou surpreso. "Não conhecia essa situação: um menino indo três vezes ao CRATOD sem conseguir a internação! Vou conversar com os juízes e promotores do plantão [do CRATOD] para que isso não aconteça mais." Representando a população em situação de rua, Maria Solange Machado acusou o "corporativismo médico" de causar a dificuldade de internação. "Com tantos profissionais envolvidos no tratamento, por que só o médico pode dar o laudo que atesta a necessidade de internar o viciado Crack: o debate precede o combate.

Muitos caminhos 

"Antes era a cola, hoje é o crack. Amanhã vai ser o quê?", provocou a ex vereadora Soninha Francine, reafirmando a fala de vários participantes sobre a necessidade de prevenir as situações que levam ao uso da droga - como desestruturação familiar, desemprego e violência, entre outros. Diante de críticas de alguns presentes sobre a evangelização dos dependentes químicos, Soninha pediu que as alternativas fossem respeitadas. "Não existe uma só resposta para o crack. A religião não funciona para todos, assim como a disciplina da internação afasta muitos. Precisamos pensar em políticas universais", concluiu. 

Próximos passos

No final do debate, Young se comprometeu em continuar tratando o tema e propôs a formação de um grupo de trabalho integrando outros vereadores e assessoria com o objetivo de realizar um grande seminário para aprofundar o assunto. Ele convidou a todos para acompanharem esse encaminhamento e articular as ideias levantadas, a fim de que se transformem em projetos da Câmara Municipal. "O desafio é muito complexo e precisamos avançar no consenso para envolver a sociedade em políticas públicas claras. As soluções vêm do debate."

Jorge Carcavallo, dono da frase que começou esse texto, completou o convite do vereador com um toque de esperança. "Se todos nos comprometermos, o crack logo estará vencido. Afinal, temos muito mais gente fora da cracolândia do que dentro dela."

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